Museu do índio deve levar nome de indigenista símbolo do Xingu


"vereador espera garantir que trabalho do sertanista não se perca com o tempo"

Uma obra imponente, que guardará para as futuras gerações a história dos povos do Xingu, pode levar o nome de um dos homens mais importantes para a região. Indigenista, mas também intitulado sertanista, Afonso Alves da Cruz, o Afonsinho, recebeu uma homenagem póstuma dedicada pelo vereador Victor Conde, do MDB, que apresentou o projeto à Funai, e a empresa Norte Energia.

Foto: Arquivo da Família 
A indicação nº 1652/2018, sugere à empresa, responsável pela obra de construção da nova Casa do Índio, que o prédio receba o nome de Museu Afonso Alves da Cruz, como forma de eternizar seu legado, e permitir que a região, e as futuras gerações, tenham acesso a essa parte tão importante da história dos povos do Xingu.

A indicação foi aprovada por unanimidade na casa de leis, e agora será apresentada à Funai, que será a gestora do prédio. A intenção do parlamentar, um fã assumido do sertanista, é garantir que uma história tão rica não se perca com o tempo. “Nós convivemos com um homem que desbravou essa região, conheceu a fundo os costumes, culturas e línguas que pouquíssimas pessoas tiveram sequer conhecimento. Ele não apenas protegeu essas populações, o Afonso permitiu que esses povos fossem conhecidos, e respeitados, nós temos uma dívida com esse homem, e essa foi a forma que eu encontrei para saudar parte dela”, declarou o parlamentar.

Foto: Arquivo da Família 

Foto: Arquivo da Família 
Afonso Alves da Cruz morreu em 2017, com 82 anos, em casa, ao lado da família e amigos. Vítima de Parkinson, o sertanista sofreu um AVC após uma queda. A família guarda com carinho as fotos, reportagens, e alguns poucos vídeos que foram feitos durante os 50 anos de atuação junto às comunidades indígenas. Os relatos de Afonsinho constam do livro Memórias Sertanistas (Sesc 2015), e mostram uma vida difícil, onde o sofrimento de não ter recursos para ajudar os indígenas, e garantir mínimas condições, se misturavam a paixão por esses povos, levando um homem a fazer o possível para salvar o maior número de índios que ele conseguisse.

História

Com 16 anos de idade Afonso começou uma trajetória que entraria para a história. Recrutado pelo Serviço de Proteção aos Índios – SPI, foi trabalhar com os Kayapó, no posto Gorotire. Levado por parentes, e amigos que também trabalhavam com os indígenas, Afonsinho teve uma passagem tranquila, e logo foi transferido para outro posto. Dessa vez, o desafio parecia maior, e o trabalho era com os Kayapó do grupo Kubenkranken, que viviam em conflito com seringueiros.

Foto: Arquivo da Família
A chegada de Afonso sucedeu um ataque violento, orquestrado por seringueiros, que resultou em dezenas de mortes dos dois lados. Apesar do clima tenso, o sertanista parecia destinado à profissão, e além de ser aceito entre os Kubenkranken, foi criado pelo Cacique Tikiri, que o ensinou a nova língua, e os costumes do seu povo. Fluente em mais de oito dialetos, e conhecedor de outras tantas línguas, Afonso Alves da Cruz enfrentou com sabedoria todos os desafios que lhe fora apresentados.

A partir de 1970, já experiente, o sertanista passou a ser enviado para expedições próximas aos trechos que estavam sendo ocupados pelo governo federal, para a abertura da Rodovia Transamazônica. Os militares precisavam construir a rodovia, mas os indígenas Arara se recusavam a aceitar pacificamente a obra, que havia passado dentro de uma de suas aldeias. Em 1979, após várias tentativas de aproximação, e alguns poucos contatos firmados, como mostram os relatos de amigos, e do próprio sertanista, os Arara atacam um grupo da Funai, e Afonso acaba sendo flechado duas vezes. 

Foto: Arquivo da Família 
Foram meses de recuperação, mas após estar de volta ao trabalho, Afonso retomou o contato com os Arara, e ao lado do sertanista Sydney Possuelo, se aproximou dos Arara da região do Laranjal, em meados de 1980, e em seguida, dos Arara da Cachoeira Seca do Rio Iriri, já em 1987. Esses novos contatos foram pacíficos, e representaram uma mudança na política de aproximação da Funai junto aos indígenas isolados. Esse trabalho rendeu ao sertanista o respeito do povo Arara da Cachoeira Seca.

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